sexta-feira, 29 de janeiro de 2010
Eu sei, mas não devia, de Marina Colasanti*
Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia.
A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a pagar por tudo o que deseja e o de que necessita. E a lutar para ganhar o dinheiro com que pagar. E a ganhar menos do que precisa. E a fazer fila para pagar. E a pagar mais do que as coisas valem. E a saber que cada vez pagar mais. E a procurar mais trabalho, para ganhar mais dinheiro, para ter com que pagar nas filas em que se cobra.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim-de-semana. E se no fim-de-semana não há muito o que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma.
* Marina Colasanti nasceu em Asmara, Etiópia, morou 11 anos na Itália e desde então vive no Brasil. Publicou vários livros de contos, crônicas, poemas e histórias infantis. Recebeu o Prêmio Jabuti com “Eu sei mas não devia” e também por “Rota de Colisão”.
O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia”, (1972)
Foto: Verigo, por Nadiard
quinta-feira, 28 de janeiro de 2010
Rotary no Haiti com o projecto Shelter BOX
Neste momento já chegaram ao Haiti 5 aviões com mais de 2.000 Shelter BOX, que estão a see distribuídas pela equipa da Shelter BOX no local (Response Team), com a ajuda dos marines Holandeses, Rotários, agência Francesa ACTED e a Cruz Vermelha Francesa. Neste momento estão a ser auxiliadas mais de 20.000 pessoas e a equipa de voluntários da Shelter Box em Inglaterra, está a trabalhar arduamente para conseguirem embalar mais cerca de 3.000 Shelter BOX, que se prevê chegarem ao Haiti ainda esta semana.
O custo de cada caixa (Reino Unido: £ 490 = € 563.29) - inclui o custo de todos os materiais, embalagem, armazenagem, transporte e distribuição em todo o mundo. Este baixo custo é conseguido através do trabalho conjunto com os fornecedores, obtendo-se assim todos os componentes abaixo do seu preço comercial. Partindo do princípio que a sua utilização dura seis meses, isto equivale a que abrigo e conforto para cada pessoa, por dia, custa menos de 30 pence (35 cêntimos).
Vários clubes rotários portugueses estão a doar estas Shekter BOX. Para doar uma Shelter BOX, clique aqui
Para saber mais: Shelter BOX
quarta-feira, 27 de janeiro de 2010
domingo, 24 de janeiro de 2010
Da caixa de comentários… Elucidando(?)
Continuam a ignorar aquilo que se passa na vossa terra e a preocupar-se com problemas distantes...”
Obrigado por nos ter visitado e por ter reagido.
Sobre a crítica em questão muito haveria a dizer, mas sintetizarei:
Se tiver números(?) de fonte credível sobre o nosso Concelho, faça-nos chegar e publicaremos.
Volte sempre, mas não tenha receio de se identificar.
Cumprimentos
sábado, 23 de janeiro de 2010
Números?
Pobreza
1.000.000.000 pessoas vivem com menos de 1.00 € por dia
2.500.000.000 pessoas vivem com menos de 2.50 € por dia
Ajuda portuguesa
Portugal ajuda, no combate à pobreza, com 0,21 % do seu PIB estando previsto atingir o valor de 0,70 % em 2015
• População Europeia
496.886.262 pessoas
Pobreza (“Limiar de pobreza”: fixado em 60 % da mediana de rendimento do respectivo país.)
80 milhões de europeus,17% da população (incluindo Portugal)
• População Portuguesa
10.649.434 pessoas
Portugal na Europa
Representa cerca de 2,15 % da população total Europeia (25)
População Activa
População activa em Portugal situa-se nos 5.587.300 indivíduos
Mulheres/Homens
A relação de mulheres para homens é de 107 para 100 respectivamente
Imigração
Em Portugal existem 3,40 imigrantes por cada 1000 habitantes
Milionários
Nº de portugueses com mais de 1.000.000 € é de 10.900 (crescimento de 3,10 %)
100 Fortunas
As 100 maiores fortunas de Portugal representam em valor 17 % do PIB
Pobreza (com menos de 360 euros mensais)
Estima-se 2.500.000 de pobres em Portugal incluindo 400.000 imigrantes 20%
(Sem pensões ou subsídios, a taxa de pobreza em Portugal seria de 40%)
1 em cada 5
...dos Portugueses vive no limiar da pobreza.
• População Poveira (Censos de 2001)
63.470
Nota - Para quem quiser estimar as taxas de pobreza ao nível do Concelho, basta fazer as contas...
Fontes: EUROSTAT e Portugal em números
Actualizado em 24/01/10
sexta-feira, 22 de janeiro de 2010
Angariação de Fundos para o Projecto dos Cônjuges do Distrito 1970
Caro(a) Companheiro(a)
No nosso distrito o papel dos cônjuges tem sido muito importante. Dá-nos mais visibilidade e é uma contribuição decisiva para que atinjamos os objectivos que traçamos no início de cada ano rotário.
Em consequência convido-o(a) a comemorar connosco os 105 anos de Rotary, no próximo dia 23 de Fevereiro, às 20H30m, num Jantar no Porto Palácio Hotel.
As receitas destinam-se à vertente do projecto dos cônjuges “satisfazer os desejos de crianças internadas no IPO do Porto” e, ainda, para a ACIAJF – Associação Católica Internacional ao Serviço da Juventude Feminina, que acolhe mães solteiras em risco social e dá refeições diárias para muitas pessoas carenciadas.
O jantar terá o apoio do Hotel porto Atlântico e a supervisão do Chefe Hélio Loureiro que, mais uma vez, colabora com o nosso Distrito em acções de apoio social.
Vamos todos estar presentes pois assim prestaremos uma justa homenagem a todos os cônjuges do nosso Distrito que merecem isto e muito mais.
Aceite um abraço do companheiro e amigo,
Manuel Cordeiro - Governador do Distrito 1970, 2009/10
Contactos:
Ferreira Pinto: 933513885; f.ferreirapinto@netcabo.pt
Nani Ferreira Pinto: 919367170; Miita Lopes Cardoso: 919901566
quinta-feira, 21 de janeiro de 2010
Primeira reunião do CA da Fundação Rotária Portuguesa em Guimarães muito aplaudida
Clubes enaltecem decisão e apostam no novo projecto da fundação
A reunião mensal do Conselho de Administração da Fundação Rotária Portuguesa (FRP) decorreu, no fim-de-semana, na sede do RC Guimarães. O encontro revestiu-se de excepcional interesse por parte dos clubes rotários do Distrito 1970, uma vez que foi a primeira reunião descentralizada daquele órgão da FRP e para o qual foram convidados os presidentes e representantes de 35 clubes rotários.
Um dos objectivos da reunião, reflectia o desejo da FRP estar cada vez mais próximo dos clubes rotários e dos rotários, foi amplamente atingido pois estiveram presentes cerca de 30 clubes que fizeram sentir os seus anseios e vontades. Mas, também deixaram sugestões e pistas para que os objectivos enumerados no novo modelo estratégico aprovado na Assembleia de Representantes realizada em Outubro, em Fátima, possam ser concretizados. Aliás, este foi, juntamente com a apresentação de novas estratégias para angariação de fundos a favor da FRP, o ponto principal de debate.
Frederico Nascimento, presidente do CA da Fundação, orientou os trabalhos do encontro e lembrou o que se pretende com o novo modelo estratégico. Um instrumento que «vá ao encontro das necessidades e dos interesses dos clubes. Mas é importante saber o que é que os clubes esperam da FRP».
Na sequência desse pressuposto, Soares Carneiro (administrador da FRP), apresentou as linhas orientadoras do novo modelo, que propõe uma «Fundação que quer passar a ser um instrumento da acção dos clubes rotários portugueses na medida em que os clubes lhe proponham projectos, que a FRP apoiará na medida dos seus capitais e deixará de ter bolsas próprias e projectos próprios estará apenas ao serviço dos clubes. É claro que isto irá obrigar os clubes a terem uma posição pró-activa».
Mas, lançou também para debate algumas questões pertinentes que surgem da ampla reflexão que o CA fez sobre os 50 anos de actividade da instituição e que partilhou com a plateia: O que é que foi a Fundação? Qual é o papel da Fundação no movimento rotário? Qual é a ligação que a FRP tem com os clubes rotários? E a terminar deixou à plateia a questão que julga ser a mais pertinente «a pergunta que se coloca passados 50 anos é: se a FRP deverá continuar a esgotar todos os seus recursos nessa acção apenas na área da Educação ou pelo contrário poderá aproximar-se mais das aspirações dos clubes podendo apoiá-los na Educação mas também noutras áreas de acção que os clubes têm quotidianamente».
O debate foi vivo e contou, entre outras, com intervenções de Miguel Loureiro, RC Póvoa do Varzim, Américo Simões, RC Guimarães, José Meireles de Barros, RC S. Mamede de Infesta, José Silveira, RC Amarante, Manuel Pereira, RC Vizela, Carlos Faria, RC Ermesinde, Carlos Teixeira, RC Viana do Castelo, Santos Bento, RC Senhora da Hora e José Pereira Herdeiro, RC Matosinhos, que apresentaram o sentir dos respectivos clubes, em áreas da educação (bolsas de pós-graduação) projectos que os clubes implementam e outros que podem vir a acarinhar, a forma como a FRP passará a apoiar os projectos dos clubes.
Tema amplamente esclarecido pelos administradores presentes que abordaram questões na área de atribuição de bolsas de estudo, assiduidade dos clubes nas Assembleias de Representantes, e financeira. Neste caso esteve em evidência a estratégia de angariação de fundos para a FRP que passa, nomeadamente, por incentivar os companheiros nos clubes (mas também amigos e conhecidos) a fazerem uso de um instrumento que está consagrado na Lei e que dá a possibilidade aos contribuintes em sede de IRS a poderem indicar 0,5 % do rendimento colectável a uma IPSS. Neste caso sugere-se preencher o quadro 9 do anexo H do IRS com os elementos relativos a: Denominação - “Fundação Rotária Portuguesa” e na coluna NIPC o número “501129081”. As receitas provenientes deste “gesto” rondam nos três últimos anos cerca de 45 mil euros. Nestes esclarecimentos foram intervenientes os administradores Horácio Brito, Nogueira Santos, Soares Carneiro e Diamantino Gomes.
Tema transversal ao encontro foi o das Universidades Seniores de Rotary. Vários clubes partilharam a sua experiência e questionaram como a FRP poderá apoiar de forma efectiva estes projectos. Sobre o assunto, Frederico Nascimento, disse ser tema com matéria suficiente para suscitar uma reunião própria. Mas, adiantou, que com o novo modelo de acção a ser implementado os projectos na área das Universidades Seniores de Rotary poderão obter subsídio efectivo da Fundação. No entanto, frisou, ter de ser analisada e reflectida a forma como esse apoio chegará aos clubes.
A recente tragédia que assolou o Haiti também foi tema de reflexão. A questão levantada por Carlos Teixeira do RC Viana do Castelo propõe a realização de uma campanha de solidariedade liderada pela FRP e que permita a angariação de fundos ou géneros que posteriormente sejam enviados para o povo haitiano. Ficou, por parte do CA da FRP o compromisso de com o envolvimento das Governadorias e o apoio dos clubes rotários se estruture a estratégia que permita realizar uma campanha de solidariedade a favor do Haiti.
O encontro concluiu com o regozijo de Frederico Nascimento que sustentou: «Fundação dará particular atenção aos projectos dos clubes que se enquadrem nas ênfases presidenciais. Temos aqui um campo vasto de actuação desde o educacional ao humanitário. Porque estes projectos das ênfases presidenciais são fundamentais para melhorar o Mundo. A nossa comunidade local. Se actuarmos aí estamos certamente a actuar bem».
O que eles disseram...
Todas as descentralizações, sejam em que áreas forem, são bem-vindas.
Sobre o novo modelo estratégico de apoio aos clubes, vai ser necessário, uma vez que a nova estrutura de funcionamento da Rotary Foundation vai implicar alterações a nível de Distrito, que vão impedir que grande parte dos clubes possam participar em projectos, pelo que os clubes terão de se virar para a FRP se quiserem fazer alguma coisa.
Miguel Loureiro
terça-feira, 19 de janeiro de 2010
Restaurantes Solidários – Uma garfada na luta contra a pobreza
segunda-feira, 18 de janeiro de 2010
sábado, 16 de janeiro de 2010
Pobreza em Portugal: "É preciso subir os salários e diversificar fontes de rendimento"
O que é preciso para não ser estigmatizado em Portugal é muito mais do que em outros países. Há uma definição do século XIX, que diz que uma pessoa é pobre quando não tem dinheiro para vestir uma camisa que seja aceitável na sociedade.
Neste estudo, não entrámos no porquê. Estamos muito virados para a ideia de que a luta contra a pobreza é igual a políticas sociais. Quando há uma percentagem tão elevada de famílias pobres entre pessoas empregadas, vê-se claramente que a política social é um instrumento útil, mas não resolve tudo. Pode ser decisivo para o terço de pensionistas ou para o outro terço, de outros inactivos como domésticas, que nunca trabalharam nem tencionam trabalhar. Aí, ou a sociedade portuguesa resolve valorizar economicamente o trabalho doméstico e tem uma modalidade de remuneração – o que seria uma revolução cultural – ou isso nunca se resolve.
A outra parte – os pobres que estão empregados, por conta própria ou por conta de outrem – não se resolve com política social, é um problema económico.
Pode haver ainda medidas como um rendimento básico – já utilizado numa região da Bélgica e num estado norte-americano – que todos os cidadãos recebem, sobre o qual constrói o seu rendimento familiar. Esse rendimento básico pode não ser suficiente para viver, mas é uma almofada que protege nos ciclos em que inesperadamente se perde o rendimento.
Num mercado economicamente liberal, temos que saber se é possível alguma vez termos pleno emprego. Eu tenho dúvidas.
Por António Marujo
do jornal Público de 23.05.2008
Foto daqui
sexta-feira, 15 de janeiro de 2010
Pobreza e Exclusão Social, por Mário Soares
Trata-se de um Livro de grande rigor e seriedade científica que se ocupa de uma temática complexa e extremamente actual, que não afecta só Portugal. É um problema que pela sua dimensão e importância entrou, na ordem do dia, com os Objectivos do Milénio (muito bem intencionados mas que, até agora, ficaram no papel), no início do século, ainda no tempo de Kofi Annan, e que constitui uma tragédia global em África, em alguns países da Ásia, da América Latina - onde as populações convivem com vagas endémicas de fome, há séculos - e que se está a intensificar, dada a crise financeira, económica e alimentar dos nossos dias, e a afectar fortemente vários países europeus, entre os quais, infelizmente, Portugal.
Preciso que se trata de um trabalho científico, mas de leitura muito acessível e sem ponta de demagogia. Os autores têm em conta trabalhos pioneiros anteriores, como o de Manuela Silva, de 1982, "Crescimento Económico e Pobreza em Portugal (1950-1974)". E, obviamente, outros mais recentes e os dados estatísticos conhecidos, até 2005.
A primeira parte do Livro, ocupa-se da "pobreza e exclusão social: problemáticas, conceitos, reflexões". Diga-se que pobreza e exclusão social, embora complementares, não se confundem. A pobreza é - para os autores - uma "situação existencial, para a qual concorrem não só as necessidades materiais (carências graves) como elementos de ordem psicológica, social, cultural e espiritual". Aliás, como se escreve no Livro, o grande economista (e prémio Nobel, creio), Amartya Sen, associa a pobreza à falta de liberdade, conferindo ao conceito liberdade, como Direito Humano, uma dimensão económica e social.
Paul Spicher, outro autor citado no Livro, fala dos diversos significados de pobreza, que agrupa em três categorias: "a necessidade material; as circunstâncias económicas; e as relações sociais". A pobreza, assim, implica dependência, em virtude da falta de recursos materiais, que gera a privação de bens essenciais à vida. Daí que a pobreza seja entendida como um atentado a um Direito Humano fundamental, a vida. Mas não se trata só da privação de alimentos ou de água potável, que também escasseia - bens essenciais - porque há outras necessidades igualmente básicas para a sobrevivência, como a habitação, o abrigo contra o frio, o tratamento em caso de doença, etc.
No nº 2 da I Parte do Livro há ainda um sub-capítulo, intitulado: "O conceito de exclusão social e a sua relação com a pobreza". Trata-se de um conceito recente. A exclusão social foi um tema mais trabalhado por analistas franceses enquanto que a pobreza tem preocupado mais os anglo-saxónicos. Mas nos dois casos trata-se sobretudo de uma questão de ênfase, como dizem os autores. Há obviamente uma complementaridade entre os dois. A pobreza representa sempre uma forma de exclusão social, ou seja - sublinham os autores - "não há pobreza sem exclusão social. Mas o contrário não é verdadeiro, porque existem formas de exclusão social que não implicam pobreza". Exemplo: os idosos. Mas há outros: as discriminações que ainda sofrem as minorias sociais. Aqui entra outro conceito: o das desigualdades sociais de que sofrem certas pessoas, pela maneira como se relacionam com o sistema social a que pertencem (mercado de trabalho, sistema educativo, serviços de saúde, integração nas famílias, e redes sociais com que se relacionam). E com tudo isto jogam a equidade e a justiça.
A II Parte do Livro trata da "pobreza e exclusão social em Portugal: velhas questões novos contributos". Passa-se dos conceitos gerais para o caso específico português. Parte-se de inquéritos e dados estatísticos seguros para uma comparação com o que ocorre nos países europeus.
Não posso, evidentemente, entrar em detalhes, dada a riqueza de elementos de informação que resultam do Livro. Houve, obviamente, grandes progressos no desenvolvimento de Portugal desde a Revolução dos Cravos (1974) e, sobretudo, depois da nossa adesão à então CEE (Janeiro de 1986). Mas a riqueza criada foi distribuída muito desigualmente. Somos hoje um dos países com maiores desigualdades sociais da União Europeia. O que para quem sempre sonhou com um Portugal livre, democrático, pluralista e mais justo representa uma imensa e intolerável desilusão.
As mulheres são mais sujeitas à pobreza do que os homens, a ruralidade mais pobre do que as cidades médias, estas, com populações, em média mais ricas do que as grandes cidades, onde existem muitos excluídos. A concentração da riqueza faz-se, cada vez mais, nas mãos de menos pessoas. E a pobreza em geral alastra e começa a atingir as classes chamadas médias.
Como é que um tal fenómeno, tão triste e desagradável, se vai resolver? E em que tempo será possível fazê-lo? São questões pertinentes e complexas, naturalmente. A crise global agravou a situação, como se tem visto. Assim não podemos continuar. Não nos podemos resignar. Há que mudar. Precisamos de um modelo de desenvolvimento diferente, com maior dimensão social e ambiental. Para poder mudar as políticas em geral. Tenho esperança que a globalização venha a ser regulamentada. Se não, o Ocidente entrará em inevitável decadência. Esta é uma questão de que nos devemos tornar conscientes. A pobreza e as desigualdades sociais não são fatalidades. Os países e as regiões mudam. Mas não será com sucessivas Conferências do G8, como a que decorre em Tóquio, espelho de impotência e incapacidade, que as crises se poderão resolver. Sobre isso, o Livro fala com bom senso, pertinência e rigor nas últimas dez páginas, intituladas: "Considerações Finais - O paradoxo da pobreza na sociedade portuguesa". Aconselho vivamente a sua leitura.
Lisboa, 8 de Julho de 2008
Retrato de Júlio Pomar
quinta-feira, 14 de janeiro de 2010
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Foi cantar as Janeiras… O Coro da USPV
domingo, 10 de janeiro de 2010
A propósito da Aproximação de Culturas
Um projecto da associação «Mémoire de l’Avenir»
Recurso artístico e cultural de um mundo sem fronteiras
França / Alemanha / Israel - Palestina/ EUA
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OS SÍMBOLOS COMO LINGUAGEM UNIVERSAL
Os símbolos, a vida imaginária e o inconsciente estão ligados, ao mesmo tempo consciência da matéria e do desconhecido, do limite e do infinito.
O símbolo é a fonte e a origem das criações artísticas e a chave para as compreender.
A expressão simbólica pode assumir muitas formas, ela varia segundo:
- os lugares e as épocas,
- a cultura,
- a escolha do artista, segundo a sua intuição e os seus pensamentos.
Encontramos os mesmos símbolos utilizados ao longo da história das culturas, apenas a expressão é diferente, raramente o significado e as interpretações.
Na nossa linguagem, nos nossos gestos e nos nossos sonhos, utilizamos os símbolos intuitivamente.
Os símbolos existem dentro de nós e exprimem-se em todas as áreas da vida.
A linguagem dos símbolos nem sempre é homogénea, mas podemos sempre fazer aproximações e encontrar semelhanças.
Apesar de uma interpretação individual e singular que torna o símbolo único e colectivo.
O símbolo é uma fonte de informação útil para a compreensão de uma cultura ou indivíduo.
Isto permite-nos compreender que todos somos diferentes, porque somos indivíduos únicos com capacidades para produzir novas mensagens e nós somos todos semelhantes como seres humanos.
Nos museus estamos expostos a uma multiplicidade de expressões artísticas, de origens e de épocas diferentes, de indivíduos diferentes, e de tradições "opostas" (cultura cristã, muçulmana, budista ou judeu...).
O símbolo não está apenas na imagem figurativa, mas também na imagem abstracta; nas formas, nas cores e nos materiais escolhidos: terra, madeira, pedra, plástico, metal, etc... como no meio expressão escolhido.
Símbolos têm origens múltiplas.
O observador vai seguir a sua própria intuição:
A percepção do símbolo requer uma participação subjectiva e uma experiência sensível. Os símbolos são sugestivos e cada um de nós vê o que as suas capacidades lhe permitem compreender.
Os símbolos são universais, porque são virtualmente acessíveis a todos, sem passar pelas palavras ou pela leitura (as letras e os números são símbolos só por si). Com os símbolos, é mais fácil apropriar-se o conhecimento das diferentes épocas, e tornámo-nos independentes face a uma mensagem imaginária.
O uso de símbolos permite a espontaneidade ao nível da comunicação, o desenvolvimento da imaginação criativa e do sentido do invisível.
Imagem daqui