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quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Raquel Camarinha por Miguel Loureiro

Caros amigos
Uma saudação especial para todos e para cada um em particular.
Em 2004, a Raquel Camarinha recebeu deste clube o “Prémio Santos Graça”, como a melhor aluna do nosso concelho, cabendo-me nessa altura fazer a sua apresentação e penso traduzir a estranheza de todos os Companheiros quando soubemos que iria abraçar a carreira do Canto Lírico, formatados que estamos por preconceitos que o nosso Sistema Educativo teima em semear, menorizando as Artes e o seu papel na formação das pessoas e na construção de uma sociedade mais rica.
Passados 7 anos e por “unanimidade” menos um (o pai, por razões que ele lá sabe) volta o Rotary Club da Póvoa de Varzim a distinguir a Raquel Camarinha, agora homenageando-a como Profissional do Ano, cumprindo o que o movimento rotário sugere, que se "preste reconhecimento àqueles que alcançam a excelência e que são exemplo de altos padrões de ética na sua vida profissional".
Acresce que nos tempos que correm em que a economia já ultrapassa o clubismo no futebol, não é displicente que tenhamos apostado numa figura da Cultura, fazendo a diferença com aqueles que endeusam sereias travestidas, que nos cantam até ao cansaço futuros risonhos e prósperos, quando afinal é o nosso presente é aquilo que se vê…
E antes do mais queremos dizer, simplesmente, que temos muito orgulho de pertencermos à comunidade em que a Raquel se construiu como pessoa (o nascimento em Braga é um pormenor ocasional e deve ser reconhecida, rapidamente, como cidadã poveira, digo eu) e que por isso, subconscientemente, queremos compartilhar o sucesso que ela vem conseguindo e que será sempre maior (a Lei da Atração tem que funcionar) e queremos dizê-lo de uma forma que ultrapasse os limites do nosso território e fique gravado no futuro da sua e das nossas vidas (dizem que não é por acaso que nos encontramos…).
Mas não é só por ser poveira e por ter chegado ao patamar profissional, cujo cume ha de atingir, que o Rotary Club da Póvoa de Varzim a quis homenagear. Foi sobretudo por lhe reconhecer, cumulativamente, os valores que o movimento rotário cultiva e se empenha em vê-los frutificar, que para além de ser um exemplo, também para cada um de nós, a projeta e nos projeta na consciência colectiva, sublinhando comportamentos, atitudes e valores, que cada vez mais vão escasseando, por não serem, hoje, a base e o método para se chegar às metas individuais e a que se chama, eufemísticamente, MERITOCRACIA.
E talvez seja o momento de voltarmos à soprano Raquel Camarinha, para publicitar o seu Curriculum, que reforçará, logicamente, a nossa escolha e a justiça da mesma:
Raquel Camarinha nasceu em Braga em 1986. Inicia os estudos de Canto em 2000, concluindo em 2004 o Curso Secundário de Canto, com a classificação máxima.
Termina em 2009 a Licenciatura em Ensino de Música – Canto, na Universidade de Aveiro, na classe do Prof. António Salgado, tendo sido, por várias vezes, bolseira da mesma universidade.
Em 2011 conclui com Mention Très Bien o Mestrado em Canto no Conservatório Nacional Superior de Música e Dança de Paris, classe de Chantal Mathias.
Frequenta actualmente o 3º Ciclo Superior – Diploma de Artista Intérprete – “Canto” e “Reportório Contemporâneo e Criação - no CNSM de Paris.
Em 2011, foi galardoada com o 1º prémio no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi, juntamente com o Prémio Ana Lagoa, para a melhor interpretação de Ária de Ópera, que lhe valeu um “Voto de Louvor” da Câmara Municipal da Póvoa de Varzim.
Foi também galardoada com o Best Female Performar Award, na Armel Opera Competition, na Hungria.
Juntamente com o pianista Satoshi Kubo, recebeu o Prix de Duo no VI Concours International de Chant-Piano Nadia et Lili Boulanger.
Basta ver as caras estupefactas dos jurados durante um Spectre da rosa de Berlioz sobrenatural, leve, para entender o milagre realizado pela soprano portuguesa Raquel Camarinha (25 anos) sublime – pesamos a palavra - acompanhada por Satoshi Kubo (28 anos). As peças de Fauré, Beethoven, Vasconcellos, Boulanger, Debussy e Lancino não ficaram atrás em matéria de frescura luminosa, caracterização, compreensão do texto (em francês perfeito!) e de total cumplicidade entre a soprano e o pianista japonês. Ambos receberam, muito legitimamente, o Prémio do duo canto-piano/Prix duo Rainier III do Mónaco.
É igualmente laureada dos concursos Prémio Jovens Músicos 2007, 2º Concurso de Canto Lírico da Fundação Rotária Portuguesa e Prémio José Augusto Alegria.
O seu reportório abarca obras desde o Barroco até ao contemporâneo. Em ópera, interpretou, entre outros, o papel de soprano de The Fairy Queen, de Purcell, os papéis Mozartianos de Pamina (Die Zauberflöte), Zerlina (D. Giovanni) e Barbarina (Le Nozze di Figaro), Ermione (Antigona – Myslivicek), Eurydice (Orphée aux Enfers - Offenbach) e Polly (Die Dreigroschenoper - Weill).
Em oratória, participou como solista em obras como Jephte, de Carissimi, Matthäuspassion, Cantata 51 e Cantata 93, de Bach, Die Jahreszeiten e Die Schöpfung, de Haydn, Exsultate, Jubilate, de Mozart e Stabat Mater, de Pärt.
Apresenta-se regularmente em concertos em Portugal e na Europa. Desenvolve igualmente um grande interesse pelo reportório mais recente, tendo estreado obras de vários compositores, uns portugueses, duas óperas de Luís Tinoco, Evil Machines (2008) e Paint Me (2010) e outros estrangeiros, entre outras, obras de Schoenberg, Weill, Berio, Stockhausen, Xenakis e Aperghis.
Recentemente, interpretou Marie, em L’Enfance du Christ, de Berlioz, em Arhem e Roterdão, na Holanda e interpretará Eurilla, em Orlando Paladino, no Théâtre du Châtelet, em Paris.
Os últimos papéis interpretados
Tula (Paint me - TINOCO) - Culturgest, Lisbonne - Décembre 2010
Fairy Queen (The Fairy Queen - PURCELL) - Salamanca - Mai 2011
Ermione (Antigona - MYSLIVECEK) - Theater Biel-Solothurn - Septembre 2011
Ermione (Antigona - MYSLIVECEK) - Théâtre National de Szeged - Octobre 2011
E porque tenho um blogue (que me dá muito trabalho e poucas alegrias), onde tenho registado alguns dos passos da Raquel neste último ano, dizendo o que me vai na alma e na mente, vou aproveitar para os acrescentar ao discurso, resumidamente:
Raquel Camarinha, a nossa soprano, sobe em Paris
Numa das primeiras impressões que deixei aqui sobre a Raquel Camarinha, dizia que era uma jovem soprano em ascensão, uma voz maviosa e uma intérprete excepcional e não errei na apreciação, como se pode ver pela crítica ao último espectáculo em que participou em Paris Les Rendez-Vous d’Ailleurs - 12 de Janeiro, em que a Raquel é destacada, precisamente nos mesmos parâmetros com que a descrevi.
Se seguirmos o fluxo do concerto, as obras a solo e duetos ligam-se e enriquecem-se mutuamente. O grão das cordas tocadas ou batidas do grande contrabaixo de Simon Draper faz vibrar o ar da íntima e simpática sala do cabaret-concert, mas é a viagem de força da voz nua de Raquel Camarinha, na célebre Sequenza III Berio, que mais impressiona. Tão cantora, como actriz, passando por todos os registos da voz humana - é o verdadeiro desafio desta peça, do monólogo à voz lírica, do rir ao jazz, ela interpreta em todos os sentidos da palavra, e dá um forte sentido teatral ao que poderia ser uma performance vocal desarticulada. Menos exposta vocalmente e cenicamente na Voz, Raquel Camarinha mostra-se de outra forma, revelando a sua origem e o seu apego a Portugal e ao Fado. Ela pediu a Lawrence Durupt para recriar essa música, para que a arte do fado vivesse e se transfigurasse numa outra arte musical, a sua própria.
No Canto Lírico, “santa da terra fez milagre”!
Tenho feito aqui o acompanhamento do percurso da Raquel Camarinha e esta é a 8ª referência, por ligações pessoais, mas sobretudo porque lhe adivinhei o talento que transbordava aquando da primeira vez em que a ouvi.
Provavelmente a Raquel já não se lembrará, mas em 2004, deixei-lhe este lema de vida de Nadia Boulanger, que ela já o seguia e de que vai fazendo prova:  "Vencer não é nada, se não se teve muito trabalho; fracassar não é nada se se fez o melhor possível."
Vote na nossa soprano (Raquel Camarinha) não por ser portuguesa, mas por ser a melhor…
Ontem recebi da Raquel Camarinha um “convite”, que espalhei no Facebook e que foi partilhado por vários amigos, principalmente melómanos, que votaram na Antígona, onde a nossa soprano participa e pelos vistos, votaram em consciência.
Para quem se diz como eu, imparcial (tento), sugerir que se vote, tout court, em determinada candidata a um prémio, só porque é portuguesa e das minhas relações, parece inconsistente (e talvez seja), mas é bom lembrar que a Raquel foi considerada a melhor cantora lírica jovem de Portugal em 2011 e a melhor intérprete, no Concurso Nacional de Canto Luísa Todi, o que não me coloca a “vender gata, por lebre”.
Acresce, que hoje em dia, as TIC são utilizadas nestes eventos como promotoras de “campeões”, razão porque devemos usar as mesmas armas para que a justiça do prémio não seja apenas baseada nas redes sociais. E daí a “inconsistência” da minha atitude, de sugerir a audição de todas as óperas concorrentes e no fim votarem na Antígona, porque outros farão o mesmo para outras concorrentes.
Raquel Camarinha ganha e segue, a nível mundial…
Claro que não é a vencedora de um campeonato do mundo de qualquer modalidade desportiva, mas é um feito nunca alcançado por uma portuguesa, no canto lírico, que como tantos outros distinguidos lá fora, não são distintos cá dentro.
E porque tenho acompanhado a carreira da Raquel Camarinha, porque sim, e dela tenho feito eco (e figas) neste blogue, para que se saiba, já que a imprensa portuguesa não deu conhecimento do feito e para memória futura, ficam estes registos.
Mas, como dizia há anos um músico premiado internacionalmente, quando os jornalistas lhe perguntavam sobre os sentimentos que lhe iam na alma, ao que ele respondeu: “O melhor elogio que me podem fazer, é darem-me trabalho…”. E por isso, Raquel, Parabéns e muito sucesso, que é a ópera da tua vida!
Só te pedimos, que por muito peso que Montserrat Caballé tenha no Canto Lírico, não queiras nunca ficar tão pesada…
E naturalmente que os pais, o nosso Companheiro Saldanha Rosa e a Companheira Cidália Camarinha “tem culpas no cartório” (não por não a registaram na Póvoa) vão também para eles os nossos parabéns, com abreijos…
E acrescenta-se assim ao currículo da Raquel, esta Homenagem à Profissional do Ano 2011, do Rotary Club da Póvoa de Varzim, que pouco mais sendo do que um somatório de reconhecimento e aposta, de admiração e respeito, é sobretudo uma manifestação de gratidão e de afetos…
Para quem não se arrepiou com a interpretação da Raquel na Armel Opera Competition, vamos ouvir agora o registo, trabalho do Companheiro Ricardo Costa e que dispensaria todas as palavras que gastei a justificar o óbvio…
Miguel Loureiro

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