Paul Anthony Samuelson, um dos maiores economistas norte-americanos, que ganhou o Prémio Nobel de Economia em 1970, autor da consagrada obra “Introdução à Análise Económica”, a mais lida e traduzida no mundo inteiro, professor da Universidade de Harvard, consultor do Tesouro dos Estados Unidos, assessor dos presidentes Kennedy e Johnson, afirmou certa vez em entrevista: “nenhum esclarecimento convincente foi oferecido, até hoje, para explicar por que os países pobres são pobres e os países ricos são ricos”.
Essa afirmação de Samuelson vem-me despertando, ao longo do tempo, aguçada curiosidade, desde quando eu era estudante do Curso de Bacharelado em Ciências Económicas e mesmo durante os Cursos subsequentes de pós-graduação, stricto e lato sensu. Na verdade, trata-se de uma inquietante observação, a qual sempre esteve presente em minhas incursões pelo estudo dos complexos problemas económicos. Porém, não são apenas os académicos, professores e alunos que se preocupam com esse desafiante tema. Tem sido, também, uma incómoda “dor de cabeça” para governantes, políticos e empresários.
Recentemente, caiu-me em mãos um volumoso livro pertinente sobre o assunto, de autoria de David S. Landes, professor emérito de história e economia política da Universidade de Harvard, cujo título é bastante sugestivo: “Riqueza e a Pobreza das Nações”. No seu conteúdo, David elenca uma série de motivos pelos quais algumas nações são tão ricas e outras tão pobres. Embora o autor não apresente nenhum tipo de solução mágica, tirada da manga, para resolver definitivamente o problema, as suas argumentações são lógicas e estão bem fundamentadas em factos reais. Ele diz, por exemplo, que vivemos num mundo de fortes desigualdades e diversidades, o qual está dividido em três tipos de nações:
- aquelas em que as pessoas gastam rios de dinheiro para não engordar;
- aquelas em que as pessoas comem para viver e;
- aquelas cuja população não sabe de onde virá a próxima refeição.
A seguir, alguns trechos pontuais em que aborda a crua realidade: “Hoje, o grande desafio e ameaça é o abismo em matéria de riqueza e saúde que separa os ricos dos pobres. O tamanho desse abismo, entre ricos e pobres, é formado pela diferença em termos de renda per capita entre a mais rica nação industrial, a Suíça, e o mais pobre país não-industrial, Moçambique, é de cerca de 400 para 1. Há 250 anos, esse hiato entre o mais rico e o mais pobre era, talvez, de 5 para 1, e a diferença entre a Europa e o sul Asiático (China e Índia) andava, em torno de 2 para 1”.
Continuando em sua análise, o autor tenta explicar que é falsa a ideia de que o enriquecimento de alguns países só acontece mediante o empobrecimento de outros. Defende a tese de que os países ricos terão que, necessariamente, ajudar os países pobres. “Se eles (os países pobres) não podem ganhar exportando mercadorias, passarão a exportar gente. Em suma, a riqueza é um íman irresistível; e a pobreza um agente de contaminação potencialmente violento.” Landes acha, também, que as nações do ocidente prosperaram cedo porque optaram pelo modelo de sociedade aberta, concentrada na produtividade do trabalho e nas novas tecnologias, enquanto os países do lado oriental ainda continuam presos a tradições milenares, crenças, superstições, mitologias, culto a divindades e restrições de natureza religiosas.
Na minha modesta avaliação, acho que o mundo precisa urgentemente de uma nova ordem económica global. Não para inibir a prosperidade dos países ricos, mas para promover o crescimento dos países pobres.
Alcyr Veras - Economista e Professor Universitário
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