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sábado, 17 de julho de 2010

Índice de pobreza: diversão de cientistas sociais?

Foi divulgado um novo modelo para examinar a pobreza no mundo. Será que fará alguma diferença para aqueles que pretendem mensurar?
A expectativa de que o novo Índice Multidimensional de Pobreza (IMP) será uma ferramenta efectiva na guerra contra a miséria é grande. O índice foi desenvolvido por uma organização de pesquisa ligada à Universidade de Oxford, na Inglaterra, em cooperação com as Nações Unidas.
Tradicionalmente, a pobreza é medida focando primeiramente a renda média de um país e sua população (o chamado Índice de Desenvolvimento Humano). É estabelecido um padrão e todos que vivem abaixo dele são considerados pobres.
Sabina Alkire, Directora da Unidade de Pesquisa da Universidade de Oxford, diz que este método tradicional é muito simplista para o mundo moderno.
Sobreposição
O novo método observa uma combinação de dez factores, incluindo saúde, educação e padrão de vida, e procura identificar onde estes factores se sobrepõem ao nível doméstico, explica Alkire: “Uma criança não vai à escola, mas esta criança pode também estar mal nutrida e os seus pais talvez nunca tenham frequentado a escola. E existe uma escola? Então, as barreiras para que ela entre na escola são:
1.    Há uma escola?
2.    Os pais desta criança sabem o valor da educação escolar e de ajudar com os deveres de casa? e
3.    Quando a criança está na escola, ela pode concentrar-se e aprender? Porque ela pode estar mal nutrida e não ter capacidade de concentração.
Por isso observamos como estas coisas acontecem simultaneamente ao nível doméstico.”
É uma combinação de factores que até hoje não vinha sendo considerada, dizem os pesquisadores de Oxford. O uso do novo método pode resultar numa maneira nova de olhar o mapa global da pobreza no mundo.
Duvidoso
Texto daqui e Imagem daqui

Mas nem todos estão convencidos com o novo índice. Paul Hoebink, especialista holandês em cooperação para o desenvolvimento, concorda que considerar apenas a renda não é o suficiente, porque depende de cada ambiente. Um pobre nos Estados Unidos, por exemplo, não é pobre na África.
Mas Hoebink diz que o novo modelo na verdade não é tão novo. Esta maneira de pensar já é utilizada há anos, argumenta, e que a divulgação de modelos assim é visto por ele como uma espécie de competição entre cientistas sociais.
Hoebink não se convenceu com o novo modelo, especificamente, porque as diferentes causas de pobreza que o método enfoca são muito difíceis de serem mensuradas: ”Isso faz com que este modelo seja um pouco duvidoso. Claro que você pode medir um pouco. Você pode medir áreas que estão ameaçadas de enchente, ou que parte do país é mais vulnerável a um terramoto ou tempestade tropical. Mas em geral estas medidas dependem do momento em que são feitas. Portanto, por um lado são cientistas competindo com ideias, por outro muitos destes aspectos multidimensionais são simplesmente muito difíceis de mensurar.”
O novo índice multidimensional aparecerá como principal ferramenta de medição no Relatório de Desenvolvimento Humano da ONU, que será lançado em Outubro.
Índia x África
Segundo o novo método, existem 1,7 mil milhões de pobres no mundo, 400 milhões a mais do que o actual cálculo da ONU.
E há mais pobres na Índia do que na África – mais de 50% da população da Índia é pobre de acordo com a nova medida, contra 42% na antiga.
Estas pessoas estão concentradas nos oito estados mais pobres da Índia e ultrapassam em número os países subsaarianos mais pobres, embora nestes a concentração de pobreza seja pior.
O novo método permite medir a intensidade da pobreza, o que significa que, as bolsas de miséria no mundo, podem ser directamente comparados e, de acordo com os pesquisadores, também as melhores maneiras de combater a pobreza.

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