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sexta-feira, 9 de julho de 2010

Bernardo Kliksberg: a pobreza mata


Na América Latina, a desigualdade socioeconómica gera um perigoso ciclo de perpetuação da pobreza e leva a números cada vez mais discrepantes entre as condições de vida em países desenvolvidos e em desenvolvimento. Bernardo Kliksberg, autor do livro “As pessoas em primeiro lugar”, escrito com Amartya Sen, afirma que o problema tem solução e aponta alguns caminhos.
“A pobreza não é uma cifra abstracta, a pobreza mata”. A afirmação enfática é de um dos mais famosos especialistas do mundo na luta contra o que ele considera ser o pior mal do mundo. Bernardo Kliksberg é conselheiro especial da ONU e de algumas de suas principais agências, como PNUD – Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, UNESCO – Organização Educacional, Científica e Cultural das Nações Unidas e UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância,  já foi consultor na administração de mais de 30 países e auxiliou presidentes, ONGs e empresas.
Autor de centenas de artigos técnicos e diversos livros, Kliksberg lançou em Maio deste ano, no Brasil, a versão em português do livro que escreveu com Amartya Sen, “As pessoas em primeiro lugar”, em que eles chamam a atenção para a desigualdade socioeconómica dos países em desenvolvimento, causadora do ciclo de perpetuação da pobreza, da falta de acesso à saúde, educação, emprego e informação e da violência.
Kliksberg cita de cor alguns dos números que o indignam e que, ele garante, têm solução. “Na América Latina, morrem trinta crianças a cada mil nascidas vivas. Na Suíça, são apenas três. Mais de vinte mil mães latino-americanas morrem, por ano, por complicações durante a gravidez e o parto, são 90 mortes maternas para cada 100 mil crianças nascidas vivas. No Canadá são seis”.
Durante o lançamento do livro, que fez parte da programação da Conferência Ethos 2010, Bernardo Kliksberg conversou com o Planeta Sustentável e disse: a razão para números tão discrepantes entre países desenvolvidos e em desenvolvimento é a pobreza. “Essa é uma questão que precisa ser central, pois é um atentado aos Direitos Humanos”.

Qual a causa da pobreza na América Latina?
Essa é uma grande pergunta, porque a América Latina é rica em petróleo, em matérias-primas estratégicas, em água limpa – tem um terço das águas limpas do planeta –, em fontes de energia barata e em capacidade de produzir alimentos. Então, qual é a causa da pobreza? A desigualdade.
A América Latina é a região mais desigual do planeta. Os 10% mais ricos têm mais de 40 vezes o que possuem os 10% mais pobres. Na Noruega, são seis vezes. E a desigualdade existe em todos os aspectos: no acesso à terra, à educação de qualidade, à manutenção da saúde, no acesso à internet. Isso causa o que chamamos de armadilhas da pobreza. A criança que nasce numa favela, num subúrbio, numa zona muito pobre da América Latina, vai ter uma saúde frágil por tomar água contaminada, vai ter que trabalhar desde pequenina para ter algum dinheiro e não vai poder completar a escola primária ou secundária, o que a vai impedir de entrar no mercado de trabalho. Ela estará à margem para toda a vida. Hoje temos uma população de 190 milhões de pobres na América Latina, número que cresceu 9 milhões, em 2009, em função de uma crise causada pela especulação financeira, sobre a qual a América Latina não teve nenhuma responsabilidade.
É uma falsidade total pensar que a pobreza não é derrotável ou que a culpa da pobreza é dos pobres. No Brasil, ouve-se dizer que a culpa de as crianças estarem nas ruas é das próprias crianças. Isso é não ter consciência! A imensa maioria das crianças que vivem nas ruas é fruto de famílias destroçadas e de uma sociedade que não se preocupa com elas. As escolas não as acolhem e não há outro lugar, a não ser a rua, para se enfiarem. Ali, elas correm risco de morte, de assassinato, de maus tratos permanentes. Os pobres não são os responsáveis pela pobreza. Este sistema de políticas que geram desigualdades, o modelo económico ortodoxo que maximizou essas desigualdades, é que gera pobreza.
Texto de Thays Prado – Edição: Mônica Nunes - daqui
Foto daqui
Nota – Só na América Latina?


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