Em 1932, Herbert J. Taylor escreveu quatro perguntas num pequeno pedaço de papel para servir de parâmetro ético a seus funcionários.
Estas simples perguntas tornaram-se conhecidas como a Prova Quádrupla, que já foi traduzida para mais de 100 idiomas e é repetida semanalmente em reuniões de clubes rotários no mundo inteiro.
Quando a revista The Rotarian publicou uma carta de Merv Hecht, associado do Rotary Club de Santa Mónica, Califórnia, EUA, afirmando que os princípios da prova estavam ultrapassados e pouco práticos no mundo de hoje, uma enxurrada de respostas, a maior parte defendendo a prova, inundaram a revista.
"É VERDADE? A verdade é relativa", diz Hecht a respeito da primeira das quatro frases. "Antigamente acreditávamos que a verdade era que a Terra era plana. Quem não aceitasse aquilo era morto na fogueira. Depois, durante muitos anos, disseram-nos que a terra era redonda. Agora, eles dizem que a Terra é elíptica por causa da força da gravidade. Afinal, qual é a verdade?" Ele prosseguiu argumentando que o que é justo para um, raramente é justo para todos, e que as duas outras frases da prova simplesmente "não são realistas no mundo de hoje". (Leia a carta na íntegra.)
Hecht disse que ficou surpreso com a reacção à sua carta. "Foi uma carta espontânea, mas pensando melhor acho que foi uma reacção a esta atitude - ou preto, ou branco - que permeia a nossa sociedade". "A Prova Quádrupla é mais um dos extremismos que nos divide e que não permite às pessoas ver as várias tonalidades de cinza que existem nas relações sociais. Talvez o Rotary, uma das minhas organizações preferidas, beneficiasse com uma Prova Quádrupla que fosse aberta a outros pontos de vista."
Veja abaixo algumas das respostas que encheram a caixa de mensagens da The Rotarian.
· Dale Bailey, de San Diego, Califórnia, EUA, concorda com Hecht: "Você tem razão, a Prova Quádrupla está obsoleta. No mundo de hoje os extremismos apenas limitam a nossa liberdade. A verdade hoje é aquela que beneficia cada indivíduo."
· John Collier, presidente eleito do Rotary Club de West U, Houston, Texas, escreveu: "Se alguém tem um compromisso com a verdade, ele não engana as pessoas, é transparente e não acredita em segredos."
· Marsha Doyle, tesoureira do Rotary Club de Lamar, Missouri, EUA, respondeu: "A Prova Quádrupla não foi feita para ser fácil. Acho que ela foi feita para nos forçar a avaliar os nossos actos, para termos a certeza de que estamos procurando agir com integridade. Nós tentamos e às vezes falhamos. Mas tentamos mesmo assim. E acabamos triunfando mais do que falhamos. O Rotary deve continuar a promover a prova como padrão a ser almejado por todas as pessoas íntegras e de boa vontade."
· George Paden, associado do Rotary Club de Sand Springs, Oklahoma, EUA, e presidente da comissão distrital de Bolsas Rotary pela Paz diz: "Eu acho que, justamente porque não achamos que a Prova Quádrupla é realista, todo o rotário deve adoptar os princípios nela apresentados. Porque os rotários são pessoas que não se contentam apenas com o que é realista ou de seu interesse."
· Connie Cockcroft, presidente do Rotary Club de Athens, Pensilvânia, EUA, escreveu: "A Prova Quádrupla é a maneira mais pura e humilde de promover a ética nas nossas profissões."
· Marina Gavioli escreveu: “A prova quádrupla é uma referência. Cada um reage a ela de acordo com a sua leitura do mundo, assim como tudo na vida. Ela se adapta à realidade de cada cultura, na época em que se encontra. É questão de consciência e bom senso. Serve para uma reflexão interna. Podemos filosofar sobre cada item separadamente e nada fará sentido. Se procuramos compreendê-la poderemos adaptá-la em todas as situações. Trata-se do momento em que nos encontramos. Não se trata de seguir à risca e sim, compreender e agir.”
· Reinaldo Holz escreveu: “Sempre questionei o item que fala: "É benéfico para todos os interessados?" Eu entendo que ficaria bem mais lógico alterar para: "É benéfico para a maioria dos interessados?" Da maneira que está, parece-me que uma óptima acção pode deixar de ser aprovada, por ferir, simplesmente, os interesses de um ou outro companheiro. “
· Edson Ruppel Clazer escreveu: “A prova quádrupla será sempre actual. Basta que também façamos, em qualquer época, a pergunta: ”Estou a ser afectado pelo - meu egoísmo, a minha vaidade, a minha ganância e/ou o meu orgulho - ao interpretar algum facto como VERDADE e JUSTO? Caso negativo, o seu veredicto será autêntico, portanto criará BOA VONTADE e MELHORES AMIZADES e Será BENÉFICO para todos os interessados.”
· Marlene A. Manso da Costa Reis escreveu: “O companheiro Merv tem razão ao comentar que não existe A verdade ou A justiça e que o maniqueísmo é inadmissível, pois que o mundo moderno exige atitudes mais flexíveis no lidar com as complexas subtilezas de comportamento e situações que se apresentam alternadamente. Entretanto, vejo a referência à Verdade e à Justiça, não como uma assertiva filosófica ou científica, mas, pura e simplesmente, como um apelo às manifestações do aspecto mais nobre da natureza humana. Não concordo com Dale Bailey (desculpe!) que declara que "A verdade hoje é aquela que beneficia cada indivíduo". Ele está a querer dizer que isso é o que acontece ou o que deve acontecer? Nesse caso teríamos também que abolir o lema rotário "Dar de si antes de pensar em si". Por outro lado, sempre foi dito que não devemos considerar a Prova Quádrupla como um Código de Ética. As quatro frases apenas nos orientam na busca da compreensão "do outro" e nos auxiliam a avaliar o custo-benefício das nossas acções. Já se foi o tempo, por exemplo, em que - numa negociação - o resultado esperado era o ganho de um lado e a perda de outro. Modernamente visa-se o ganho-ganho, através da capacidade de ambos os lados cederem e atingirem um nível médio de satisfação. Utopia? Não. Simplesmente bom-senso.”
Por Arnold R. Grahl
Notícias do Rotary International - 2 de Março de 2010
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