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sexta-feira, 13 de agosto de 2010

A ilusão do desenvolvimento ou fim da pobreza absoluta?

Diz-se que a “ilusão é uma confusão dos sentidos que provoca uma distorção da percepção”, sendo que pode ter causa em razões naturais ou artificiais. Uma vez que a percepção é baseada na interpretação dos sentidos, as pessoas podem experimentar ilusões de formas e maneiras diferenciadas. A palavra ilusão deriva do verbo latino illudo, que significa divertir-se, recrear-se, mas também burlar, enganar. O verbo latino estava formado pelo prefixo in- e o verbo ludo, "eu brinco". De ludo derivou-se uma ampla família de palavras na qual se inclui "lúdico", relativo a brincar, "eludir", escapar, "alusão", menção, referência, "interlúdio", intervalo num jogo ou representação teatral e "prelúdio", o que precede uma representação. Na língua portuguesa, iludir evoluiu com o sentido de causar uma impressão enganosa ou ter a esperança de algo desejável.
Pela teoria do “trickle-down effect of growth”, os frutos do crescimento económico se propagam automaticamente por todas as camadas sociais. Vão primeiro para os ricos e, então, aos pobres a partir do momento em que os ricos se põem a gastar a renda obtida. Logo, o modo mais eficaz de reduzir a pobreza seria promover um crescimento económico acelerado para os pobres ganharem com esses recursos verticalmente derramados do topo da pirâmide. Sem dúvida, o crescimento económico exerce uma influência capital sobre as taxas de pobreza, ao gerar um aumento de bens e serviços que podem assim ser distribuídos entre a população. Se todos os indivíduos são beneficiados na mesma proporção, as taxas de pobreza teriam de baixar rapidamente. Mas em diversas fases de crescimento económico, não há como evitar que proporcionalmente uns recebam maior parcela que os outros, o que afecta os níveis de desigualdade e portanto o ritmo de redução da pobreza.
Mas convém referir, que as alterações nos índices de pobreza de um determinado País estão condicionadas a dois factores principais: (a) O primeiro factor, é a taxa de crescimento económico: quanto mais elevada for a taxa de crescimento económico, maior a redução nos índices de pobreza; (b) O segundo factor, é o grau em que os frutos do crescimento económico são colhidos pelos pobres. Esses dois factores podem tomar rumos opostos e, portanto, uma taxa positiva de crescimento económico pode até redundar em mais pobreza se for acompanhado por um aumento na desigualdade. A desigualdade relativa se ameniza quando o crescimento económico favorece os pobres proporcionalmente mais que os outros, ao passo que a desigualdade absoluta cai quando os pobres recebem ao menos, a mesma soma de benefícios que os outros. Esta é a condição mais importante para se atingir o “crescimento económico em prol dos pobres”.
É verdade que quanto mais tardar a dinamização da economia, maiores serão as distâncias sociais. Mas é impossível imaginar um crescimento económico sustentável sem investimentos regulares, expressivos e permanentes no social. A pobreza e a desigualdade deformam a economia, quebram-lhe a competitividade e estiolam seus mercados, chegam mesmo a bloquear o próprio crescimento. Por isso, a política económica não pode continuar a ser concebida de costas para a sociedade, como atributo de técnicos e funcionários preocupados em racionalizar custos e privilegiar a lógica dos mercados: ela precisa ter um forte e claro conteúdo social. A adopção de políticas sociais especificamente voltadas para a diminuição da desigualdade gera estímulos fantásticos nos vários níveis da sociedade.
Por Adelson Rafael – Texto completo em O País online de Moçambique

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