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segunda-feira, 23 de agosto de 2010

2 testemunhos = 2 exemplos

Voluntários trocam a praia pela companhia aos mais velhos
"Eu dou-lhe sempre umas abébias" diz, rindo, o senhor Carreira quando Ádama arrecada mais uma vitória no dominó. Ao lado, o senhor Pinto aponta a lápis a pontuação do jogo e Sara dá o mote para mais uma partida. A tarde passa-se devagar, mas é animada por estas duas caras jovens e sorridentes que vieram dar vida à casa.
Ádama tem 17 anos e Sara 22. Ambas estão como voluntárias no Centro de Convívio do Bairro do Rosário, em Cascais, ao abrigo de um programa de voluntariado promovido pela autarquia. O Cultura Social destina-se a proporcionar aos mais novos experiências na área de apoio social, cultural, protecção civil e animação de tempos livres e conta com cerca de 200 participantes. Foi lançado neste ano, mas é apenas um dos três programas de ocupação da juventude que decorrem no Verão.
"Jogamos, passeamos, tomamos o chá. Ajudamos a passar o tempo. É muito gratificante", afirma Sara, que quer ser professora e até já tem experiência de trabalho com idosos, adquirida no curso de Acção Social. À pergunta se os jovens têm paciência para a terceira idade responde que sim. "É bom aprender com os mais velhos. Mas também há jovens e jovens...", reconhece esta aluna do ensino superior, para quem os amigos olharam com curiosidade quando explicou que ia passar parte do Verão num centro de convívio.
"Aturam os velhos, é o que é! No fundo, é o que elas fazem", atira o senhor Carreira que, aos 83 anos, não perde a oportunidade de lançar mais uma farpa para animar o ambiente. "São muito simpáticas", assegura o senhor Pinto, que diariamente vem ao centro. Entre o dominó, o jornal e as palavras cruzadas vai-se a tarde e combate-se a solidão de ficar sozinho numa casa que ficou mais triste desde que, há três anos, enviuvou.
"Sempre a rirem-se, sempre a rirem-se. Isso é tão importante para eles...", comenta Isabel Santos, uma das técnicas superioras da Junta de Freguesia de Cascais, a quem pertence este e mais três centros deste tipo. "A mais-valia é elas terem-se disponibilizado para isto", acrescenta a colega Teresa Nery, reconhecendo que nesta experiência todos ficam a ganhar: jovens, idosos e instituição.
Para Ádama, a opção por um voluntariado em tempo de férias tem uma explicação clara. "Se não estivesse aqui, estava a fazer... porcaria!", admite a jovem que vai agora para o 10.º ano e sonha seguir Medicina. Além de ganhar experiência e também algum dinheiro - o programa prevê um pagamento diário de 10 euros -, com esta acção Ádama sossega os pais, que sabem que aqui está a aprender e não está a "fazer asneira". Depois de ter sido incentivada pelos pais a participar no programa Maré Viva, do Verão passado, Ádama gostou da experiência e quis repeti-la este ano. Mas num projecto diferente, que ficou a conhecer pelos panfletos distribuídos há uns meses na sua escola, na Madorna.
Acompanhar os mais velhos não é sacrifício nem novidade. "Tenho a minha avó em casa. Sei como é e já estou habituada", diz, com naturalidade. O dinheiro ganho também já tem destino: começar a tirar a carta de condução.
Texto e foto daqui

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